
Angra, pequena grande cidade, palco de importantes acontecimentos, é o retrato vivo da História que ajudou a fazer. Quando em 1534 D. João III a eleva à categoria de cidade, a primeira nos Açores, Angra era já uma florescente povoação, devido ao seu porto, uma bacia natural - Ancoragem -, que lhe dá o nome, e pela sua privilegiada situação geo-estratégica, que a tornou ponto de escala obrigatório nas travessias transcontinentais. É também no ano de 1534 que o Papa Paulo III a faz sede do Bispado dos Açores.
Angra torna-se uma referência obrigatória nos interesses económicos, políticos e estratégico - militares, não só da nação, mas também de todas as grandes potências do Grande Período Imperial das Navegações, como a Holanda, Inglaterra e França, facto testemunhado pelos exemplos de arquitectura militar, prova da necessidade de defesa de tão importante ponto estratégico.
Guardam a baía de Angra o Castelo de São João Baptista de um lado, autêntica fortaleza de extensas muralhas, e do outro o de São Sebastião, que em conjunto permitiam uma excelente defesa com o seu fogo cruzado.
Chave do Atlântico, torna-se base marítima e ponto de escala de naus e caravelas a caminho dos Novos Mundos, com especial destaque para a "Rota do Cabo" e para a "Carrera das Índias".
Pelo seu porto passam fortunas em ouro, prata e especiarias; nela pisam grandes vultos da História como Vasco da Gama e seu irmão, Paulo da Gama, que aqui encontra a sua última morada; torna-se, enfim, um ponto fulcral de uma das mais importantes páginas da História Universal - Os Descobrimentos.
Mas Angra marcou igualmente a História de Portugal, tornando-se o baluarte da resistência contra o domínio de Filipe II de Espanha, tornando-se na sede do governo do país entre 1580 e 1583. Nessa altura, mais do que nunca, Portugal foi aqui!
Em 1642, com a rendição dos espanhóis, D. João IV confere-lhe o título de "mui nobre e sempre leal". Em 1766, por decreto do Marquês de Pombal, Angra torna-se sede da Capitania Geral dos Açores e o centro político e militar do Arquipélago.
Mais tarde, no século XIX, torna-se novamente o cerne dos acontecimentos pelo papel desempenhado na implementação do regime liberal em Portugal, tendo sido sede da Junta Provisória e capital constitucional do Reino.
Por esta participação, e pelos feitos em prol dos ideias de liberdade, é-lhe granjeado o acrescentar do título para "do Heroísmo".
Esta cidade de traçado renascentista, autêntico monumento de cunho senhorial vê reconhecido o seu valor pela UNESCO, em 1983, como Cidade do Património Mundial.
Resistiu ao passar dos anos, dos conflitos, dos ataques da natureza, mormente pelo grande sismo de 1980, mantendo a traça da sua planta do século XV e a arquitectura dos seus monumentos e edifícios.